Cinco peixes-boi
retornarão à natureza no interior do Amazonas
por Augusto Rodrigues
O Instituto Mamirauá prepara para o dia 11 de agosto a
devolução à natureza de cinco peixes-boi amazônicos na Reserva de
Desenvolvimento Sustentável Amanã, na região do município de Maraã, noroeste do
Amazonas. Os cinco animais passaram por processo de readaptação à vida
silvestre no Centro de Reabilitação de Peixes-Boi Amazônicos de Base
Comunitária, que o Instituto mantém na Reserva Amanã. Outros dois animais
ainda permanecerão sob os cuidados do Centro.
No interior do Amazonas, ainda são comuns os registros de caça de
subsistência do peixe-boi. As fêmeas adultas, maiores que os machos, são alvo
dos caçadores. Sem os cuidados maternos, os filhotes de peixe-boi dificilmente
sobrevivem na natureza.
Um dos fatores de ameaça aos filhotes órfãos de peixes-boi são as redes
de pesca. Ao ficar preso a uma rede, o filhote pode morrer afogado - como são
mamíferos, os peixes-boi precisam vir à superfície para respirar, em intervalos
de aproximadamente dois minutos.
Os peixes-boi chegaram ao Centro de Reabilitação com apenas alguns dias
de vida - dentre os que serão soltos, o mais velho tem quatro anos e o mais
novo, dois. Dos cinco peixes-boi que serão soltos, três ficaram presos
acidentalmente em redes de pesca e foram entregues à equipe do Centro de
Reabilitação pelos próprios pescadores; os outros dois foram apreendidos por
agentes ambientais e entregues aos cuidados do Centro.
Segundo Miriam
Marmontel, coordenadora do Grupo de Pesquisas em Mamíferos Aquáticos Amazônicos,
peixes-boi criados em cativeiro deixam de aprender informações necessárias à
vida selvagem. Por isso, os peixes-boi liberados serão monitorados em vida
livre, por meio de sinais de rádio emitidos por um aparelho que será adaptado
às caudas dos animais.
"Temos que
acompanhá-los após a soltura para saber se o nosso trabalho de reabilitação foi
bem sucedido. Esses animais certamente são mais vulneráveis à caça do que os
que nasceram e foram criados pela mãe, na natureza, pois ela repassa ao filhote
informações como rotas de migração, lugares onde se alimentar e como fugir de
um pescador. Existe um risco, mas esses animais terão que enfrentá-lo",
diz a pesquisadora.
Cuidados especiais
De acordo com Miriam
Marmontel, o peixe-boi amazônico (Trichechus
inunguis) requer atenção especial da comunidade científica, o que se
explica pelo histórico de exploração da espécie. Há registros de caça comercial
de peixe-boi desde o século XVII. O auge da procura comercial da espécie
ocorreu entre o século XIX e meados do XX, período em que milhares de animais
foram mortos por causa da utilização de seu couro para a fabricação de correias
e de sua banha para iluminação pública.
Hoje a espécie é
considerada vulnerável à extinção. Mais de 100 peixes-boi amazônicos são
mantidos em cativeiro, em centros de reabilitação nas regiões metropolitanas de
Manaus e Belém, na Reserva Amanã.
O trabalho nos
centros de reabilitação de peixe-boi amazônico pode evitar o que já aconteceu a
outras espécies de mamíferos aquáticos. Em 2007, o baiji (Lipotes vexillifer), golfinho que habitava o rio Yang-tsé, na
China, foi declarado extinto. Devido à caça predatória, em 1768 a vaca marinha
(Hydrodamalis gigas) foi declarada
extinta, 27 anos após ter sido descoberta.
As atividades do Centro
de Reabilitação de Peixe-Boi Amazônico recebem o patrocínio da Petrobras, por
meio do Programa Petrobras Ambiental.
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Augusto Rodrigues
augusto@mamiraua.org.br
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Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá
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